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A HISTÓRIA COMPLETA DO FUSCA
A história do Fusca é uma das mais complexas e longas da história do
automóvel. Diferente da maioria dos outros carros, o projeto do Fusca envolveu
várias empresas e até mesmo o governo de seu país, e levaria à fundação de uma
fábrica inteira de automóveis no processo. Alguns pontos são obscuros ou mal
documentados, já que o projeto inicialmente não teria tal importância histórica,
e certos detalhes perderam-se com a devastação causada pela Segunda Guerra
Mundial. Grande parte dessa história pode ser condensada como se segue: No início da década de 1930 a Alemanha era assolada por uma dura recessão, e
tinha um dos piores índices de motorização da Europa. A maioria de suas fábricas
era especializada em carros de luxo, montados à mão, e ainda muito caros. Por
isso e mais uma série de fatores, a idéia de um carro pequeno, econômico e fácil
de produzir começou a ganhar popularidade. Era o conceito do "Volks Auto" - ou "Volks
Wagen", expressões alemãs que traduzem a idéia do "carro popular".
Desde 1925 um conceito básico muito semelhante ao que viria ser o Fusca já
existia, obra do engenheiro Bela Barenyi (famoso projetista, responsável
por várias melhorias de segurança passiva). Nos anos seguintes vários protótipos
e modelos surgiam, como o Superior, da firma Standard, projetado
pelo húngaro Joseph Ganz - este modelo inclusive era relativamente barato, cerca
de 1500 marcos. Até mesmo fora da Alemanha a idéia ganhava forma, com os aerodinâmicos
Tatras ganhando as ruas da então Tchecoslováquia - carros estes que o
próprio Hitler conhecia e admirava. Aerodinâmicos, resistentes e bonitos,
possuíam motor traseiro refrigerado a ar, chassis com tubo central e eram obra
do engenheiro austríaco Hanz Ledwinka, um conterrâneo e amigo do futuro
projetista do Fusca.
Esta idéia cativou também o projetista de carros austríaco Ferdinand Porsche,
um conceituado engenheiro da época, que desde 1931 abrira seu próprio escritório
de desenho. Ele também tinha os seus planos para o VolksAuto, planos estes que
em breve começariam a ser postos em prática. Logo assim que montou seu escritório ele recebeu uma encomenda da Wanderer
(parte da Auto Union, atualmente Audi) para uma linha de sedãs de luxo. Apesar
da proposta, o projeto resultante (que recebeu o n° 7, para dar a impressão de
não ser o primeiro) era já um pouco semelhante no design ao Fusca. O Typ 12 e o Typ 32 de Porsche
Ainda em 1931 a Zündapp, fabricante de motos, decidiu se arriscar na idéia do
carro popular alemão. Eles encomendaram ao escritório (Konstruktionbüro)
Porsche a construção de um protótipo de carro popular. Porsche construiu três
(na verdade a mecânica foi fornecida pela Zündapp, e as carrocerias pela
Reutter), que foram batizados de "Tipo 12". Porsche estava bastante entusiasmado com o projeto. O carro era compacto, com
motor traseiro radial de cinco cilindros (semelhante a motores aeronáuticos),
1200cc, e contava com uma carroceria aerodinâmica, para reduzir a potência
necessária e o tamanho do motor. Os primeiros modelos, ainda muito diferentes do Fusca, estavam prontos já em
1932. No entanto, a Zündapp, por problemas financeiros, rompeu o contrato.
Porsche ficou com um dos carros, entretanto nenhum deles sobreviveu à guerra. Porsche, porém, já havia negociado com outro fabricante para desenvolver um
"Volkswagen". Seguindo a tendência da Zündapp, a NSU decidiu entrar no ramo
automotivo. Porsche valeu-se então das lições aprendidas no projeto anterior, e
das idéias que ficaram mais refinadas, e o modelo da NSU acabou ficando bem
semelhante ao Fusca como o conhecemos. Tinha um motor de quatro cilindros
boxer, suspensão por barras de torção e o óbvio formato aerodinâmico. Apesar
do refinamento do projeto, entretanto, a NSU não conseguiu o capital necessário
para iniciar sua linha de automóveis, e em
1933 desistiu do projeto. Porsche, que sempre construía 3 protótipos, mais
uma vez manteve um (que está hoje no museu VW). A contribuição desse modelo NSU
(firma que, assim como a Zündapp, contribuiu com a engenharia do seu protótipo)
seria valiosa mais tarde, principalmente na hora de escolher o motor do Fusca.
Nesta época Hitler
havia tomado o poder na Alemanha e
estava comprometido com a modernização do país e a recuperação da economia,
principalmente do emprego. Entusiasta por carros desde a juventude, Hitler era
familiar com a idéia do carro do povo desde os tempos da prisão, onde leu sobre
Henry Ford. Para ele a idéia de um "carro do povo" feito por trabalhadores
alemães e viajando por todo o país era a exata realização desta plataforma
política. Decidido a financiar uma empresa estatal para produzir os automóveis que
trafegariam por suas recém-inauguradas Autobahns, Hitler deu sinal verde
para o projeto. Três opções de engenheiros lhes foram oferecidas: Joseph Ganz,
Edmund Rumpler e Ferdinand Porsche. Os primeiros dois eram judeus, e obviamente
não agradaram Hitler. Já Porsche era famoso pelo seu trabalho na Daimler, carros
que Hitler gostava, e talvez mais importante, era amigo de Jacob Werlin, amigo e
assessor para assuntos automotivos do ditador. Em meados de 1933 Werlin, que conhecia
Porsche dos tempos da Daimler-Benz, intermediou o encontro de Porsche com o
ditador. Neste encontro, Hitler mostrou-se bem informado sobre os projetos de
Porsche na NSU e com opinião formada sobre o "carro do povo". O ditador tinha
pronto uma lista de exigências a serem cumpridas por Porsche, caso o contrato
fosse efetivamente firmado: O carro deveria carregar dois adultos e três crianças (uma família
alemã da época, e Hitler "não queria separar as crianças de seus pais"). Deveria alcançar e manter a velocidade média de 100 km/h. O consumo de combustível, mesmo com a exigência acima, não deveria passar de
13km/litro (devido à pouca disponibilidade de combustível). O motor que executasse estas tarefas deveria ser refrigerado a ar,
(pois muitos alemães não possuíam garagens com aquecimento), se possível a diesel e na dianteira O carro deveria ser capaz de carregar três soldados e uma metralhadora O preço deveria ser menor do que mil marcos imperiais (o preço de uma boa
motocicleta na época). O ditador solicitou que Porsche condensasse suas idéias no papel, o que ele
fez em 17 de janeiro de 1934. Ele encaminhou uma cópia a Hitler e publicou o seu
estudo chamado "Estudo sobre o Desenho e Construção do Carro Popular Alemão".
Ali Porsche discorreu sobre a situação do mercado, as necessidades do povo
alemão, sua convicção na viabilidade de um motor a gasolina e traseiro (ao
contrário do que Hitler queria) e, principalmente, fez um estudo comparativo com
outros carros alemães frente ao seu projeto, onde concluía pela inviabilidade de
vender o carro por menos de 1.500,00 RM. Hitler leu o estudo, mas manteve-se
irredutível quanto à questão do preço, o que preocupou Porsche. Após alguns discursos sobre o projeto, Hitler finalmente colocaria a
Associação de Fabricantes de Automóveis Alemães (RDA, na sigla em alemão)
encarregada da execução do projeto. Apesar dos temores de Porsche, Werlin o
convenceu a aceitar a verba de vinte mil marcos por mês para desenvolver o
projeto. Assim, em 22 de junho
de 1934 o contrato foi assinado, e os
equipamentos foram instalados na casa de Porsche em
Stuttgart. A equipe de Porsche era liderada por Karl Rabe, e contava com o
designer Erwin Komenda (responsável pelo desenho da carroceria), Franz Xaver
Reimspiess (que desenvolveria o motor final e a logomarca VW), Joseph Kales,
Karl Fröhlich, Josef Mickl, Josef Zahradnik, e o filho de Porsche,Ferry.
Havia outros problemas além das exigências de Hitler. Porsche rapidamente
conseguiu a oposição da RDA, que era a associação de classe dos fabricantes de
carros na Alemanha, para o projeto do Volkswagen. Acostumadas com a
produção de carros de luxo, a associação esperava que o projeto não seguisse
adiante. Por outro lado, a intervenção governamental preocupava as empresas que
pretendiam se lançar por conta própria no mercado de carros populares - um
exemplo era o executivo da Opel (e
ironicamente futuro presidente da VW) Heinrich Nordhoff, que defendia que
um automóvel não deveria ser produzido pelo governo e sim pelos fabricantes. Não bastasse a oposição política, o Fusca deveria agora passar pela aprovação
da própria RDA, que iria custear o projeto (função que Hitler lhes havia
entregue), através de uma série rigorosa de testes jamais antes aplicada a carro
algum. As dificuldades técnicas envolvidas no projeto não eram menores. Fabricar um
carro pequeno que tivesse o desempenho e confiabilidade das especificações era
um desafio bem maior que o projeto de outros carros da época, e exigia o
desenvolvimento de novas tecnologias e de soluções inteligentes. O motor foi uma dificuldade à parte. Primeiro, foram tentados motores de dois
e três cilindros, para reduzir os custos, mas eles não eram confiáveis e não
produziam a potência necessária para o carro. Para economizar espaço pela eliminação do radiador, optou-se por um motor
refrigerado a ar. Como o motor era traseiro, havia problemas técnicos para a
tomada de ar para a refrigeração. Um engenheiro da equipe de Porsche sugeriu usar um motor radial de cinco
cilindros, oriundo do Typ 12 (que tinha a vantagem de já estar pronto).
Inicialmente a idéia pareceu absurda, pois este era um "motor de avião". No
entanto, por algum tempo, tentou-se esta solução.
Finalmente, após testes com um motor vertical, alguns horizontais e até
alguns dois
tempos, e com os prazos cada vez mais curtos, Reimspiess desenvolveu um
desenho funcional de um motor traseiro de quatro cilindros (boxer oposto dois a
dois) refrigerado a ar. Ironicamente baseado em um motor de avião desenvolvido
pelo próprio Porsche anos antes (1909), este motor se provou mais confiável,
silencioso, econômico e barato do que todos os outros da época. Denominado
E-Motor (o E indicando quantas tentativas foram feitas até se chegar
ao desenho final), o motor era basicamente igual ao atual, salvo pela bomba de
combustível elétrica (substituída pela bomba mecânica, mais confiável) e pelo
virabrequim em ferro fundido. A escolha do motor de quatro cilindros teve a oposição ferrenha de Heinrich
Nordhoff (então representando a RDA), mas esta foi a escolha final. Chapas de
metal curvado, encurtando o capô dianteiro e a traseira "corcunda" acabaram por
dar ao carro o aspecto característico de "besouro". Um problema com a traseira tão curta foi obter espaço para o motor. Uma idéia
genial, adotada no Fusca, foi inclinar o motor levemente para dentro, o que
economizava preciosos centímetros do capô. No mais, a suspensão era resistente, por barras de torção, e a carroceria era
sólida, o que reforçava a idéia de um carro popular e durável. O prazo para desenvolver o projeto era exíguo, apenas seis meses. Em dezembro
de 1934 o número de protótipos encomendados passou para 3, de acordo com a
filosofia de Porsche. Embora o prazo fosse curto, Porsche não queria desagradar
Hitler, e portanto, em 1935, dois modelos ainda um tanto rústicos estavam
prontos. Com fundo de madeira e motores dois tempos de 850cc, os modelos eram um
sedan de carroceria fechada - chamado Versuch 1 (V1), ou "Protótipo 1 - e
um conversível, V2, feito para agradar o Fürer, entusiasta por conversíveis. Em 12 de outubro de 1936 os dois pré-protótipos, mais um com carroceria em
aço (que somado a outros dois em aço, construídos com a ajuda da Daimler Benz,
formariam a Série W30) foram entregues à RDA para os testes (dois dos carros
contavam com o motor que acabaria sendo escolhido para o Fusca). Em três meses
cada um deles rodou 50 mil
quilômetros, enfrentando os piores terrenos, durante uma rotina de testes
seis dias por semana. Para satisfação de Porsche, o relatório final da RDA
aprovava o projeto. Os problemas ficaram apenas no freio, que ainda era a varão,
e o virabrequim (girabrequim), que quebrava com freqüência.
Em 1937 foram produzidos trinta modelos
de uma versão revisada do projeto, incluindo modificações oriundas da bateria de
testes anterior. Produzidos pela Daimler-Benz e financiados pela RDA, essa série
ficou conhecida como VW30, e era muito semelhante ao produto final, embora sem
janela traseira e sem pára-choques (nas primeiras fases do projeto,
posteriormente foram equipados com pára-choques). Eles foram submetidos a uma
bateria de testes ainda mais dura, chegando os trinta em conjunto a rodar 2,4
milhões de quilômetros nas mãos de membros das
SS, a tropa de elite de Hitler.
Após testes tão completos, a estrutura do carro ficaria praticamente
concluída. Erwin Komenda pode então trabalhar na forma final do carro. Ele fez
então uma maquete de pré-produção,
em madeira e tamanho natural. Dentre as mudanças mais visíveis estão as janelas
traseiras bi-partida (incorporadas em 1937
pela Reutter), a tampa do motor e o capô, e as portas com abertura normal, além
dos estribos (os modelos de teste ficavam muito sujos nas estradas mais
precárias). Cerca de quarenta e quatro modelos em metal dessa nova série (VW38/39) foram
então fabricados, para altos executivos e para fins de propaganda e exibição
(ironicamente estes viriam a ser a maioria dos KdF feitos). Em
1936-37 Porsche havia viajado para os
EUA, onde pode acompanhar os processos de fabricação em série, e trazer de
lá alemães habituados a trabalhar em
Detroit (eles iriam ajudar a viabilizar a fabricação em massa do projeto).
Com a finalização do projeto, máquinas e ferramentas foram também trazidas de
lá. Após a finalização do projeto, Hitler ficou temeroso que todas as tribulações
do projeto se tornassem públicas, manchando a imagem da superioridade alemã que
ele tanto pregava. Assim, após a certeza de os modelos de pré-produção (V1, V2,
VW 3, VW 30) não seriam mais necessários, o Fürer ordenou a destruição de todos
eles, tarefa que ficou novamente à cargo da
SS. Estava assim encerrado o longo ciclo de projeto do carro, após quatro
anos e milhões de reichmarks investidos.
Devido a um pedido de subsídio que a RDA fez, e à oposição de Porsche a este
pedido, a RDA acabou rompendo com o projeto do
Volkswagen. Porsche estava convencido que com um bem planejado sistema de
produção em massa poderia construir o carro ao preço sugerido e sem o subsídio.
Foi fundado então já em 1937 a
Gesellschaft Zur Vorbereitung des Deutschen Volkswagen, GmbH (GeZuVor), ou,
em uma tradução livre, "O Grupo Planejando o Carro do Povo Alemão Ltda",
ficando responsável pela produção do carro. O GeZuVor era parte integrante do
Deutsches Arbeiter Front (DAF), ou "Frente de Trabalhadores Alemães",
que era uma organização custeada por contribuições dos trabalhadores. Uma outra
seção chamada "Kraft durch Freude", (ou KdF), "Força pela Alegria"
ficou responsável pelo sistema de vendas do carro. O carro foi batizado oficialmente de KdF-wagen, e a KdF decidiu que cada
carro seria vendido por um sistema em que o interessado deveria pagar cinco
marcos por semana e tomar posse do carro apenas depois de completar os
pagamentos (parecido com o "consórcio" que existe no
Brasil). Apesar de não saberem exatamente quando o carro ficaria pronto,
cerca de 175 mil alemães aderiram ao plano. Em 26 de maio de
1938 foi colocada a pedra basilar da fábrica, com a presença do próprio
Hitler. Mais de setenta mil pessoas participaram da solenidade. O evento teve
pesada cobertura da mídia alemã, gerando alguma repercussão internacional, idéia
do próprio Hitler, que pretendia exportar o carro para vários países. Em 15 de agosto de
1940 o primeiro KdF Wagen deixou oficialmente a linha de produção, agora com
nome interno "VW Typ 1". Era azul escuro/acizentado, assim como seriam todos os
KdF vendidos. Entretanto, até 1944 apenas
640 deles seriam produzidos, e nenhum chegaria às mãos dos que aderiram ao plano
dos 5 marcos. Todos seriam distribuídos entre a elite do partido nazista. No entanto, em 1939, com a inevitável
eclosão de uma guerra na Europa, todos os recursos disponíveis foram destinados
ao esforço de guerra alemão. A Volkswagen, anteriormente um grande instrumento
de propaganda da capacidade tecnológica alemã, foi rapidamente integrada às
ambições militares de Hitler. A produção foi interrompida após fabricação de
poucas unidades, e a fábrica foi dedicada a produzir veículos de guerra baseados
na plataforma do Fusca - usos previstos por Porsche, em seu projeto de
carroceria separada do chassis, e pelo próprio Hitler, que tinha este uso em
mente por trás da própria iniciativa em financiar todo o projeto. Prisioneiros de guerra franceses e russos foram utilizados como mão de obra,
atitude que levaria a prisão de Porsche na
França, posteriormente. Os veículos produzidos nesta época foram:
1943 Kübelwagen 25hp 1131cc
Kübelwagen
Kommandeurwagen (typ 82)
Kommandeurwagen (typ 83)
Schwimmwagen
Schwimmwagen Kübelwagen - Versão
alemã do futuro jipe
americano, era basicamente um Fusca com carroceria angulosa e aberta. Seu nome
significa "carro caixote", uma alusão aos bancos simples dos primeiros
protótipos do jipe ("Kübelsitzwagen", "carro com assentos de caixote", typ 62).
Foram desenvolvidas versões 4x2 e algumas poucas 4x4, e sua produção se
estendendo até pouco depois da guerra. Cerca de 52.000,00 unidades do typ 82
foram produzidas. Schwimmwagen - Como
indica seu nome (carro nadador), era um carro anfíbio, baseado no Kübelwagen
4x4. Cerca de 14.000,00 unidades poduzidas. Kommandeurwagen
- Carro utilizado pelos oficiais na África e partes da Europa, era basicamente
um Kübelwagen 4x4 com a carroceria arredondada do Fusca de uso civil. Existiu
nas versões "typ 82", "83" e "87". 669 unidades produzidas. Além destes veículos algumas versões civis chegaram a ser produzidas, além de
alguns veículos pitorescos, como a versão "Holzbrenner"
do Fusca, movida à pirólise
(queima) de madeira. A Volkswagen
em si também esteve envolvida com projetos mais sinistros, como a bomba
V2. Após a guerra, a Alemanha foi
dividida em zonas que ficaram sob controle dos
aliados. A zona em que ficava a fábrica do Volkswagen, complexo chamado de
"Cidade KdF", rebatizada após a guerra de Wolfsburg, ficou na zona controlada
pelos britânicos. O comando
da fábrica ficou nas mãos do Major Ivan Hirst, que se tornaria um apaixonado
pelo Fusca. Os britânicos, sem saberem exatamente o que fazer com a fábrica, acabaram por
reativar a produção em agosto de 1945,
para produzir carros para as forças de ocupação e para o serviço público alemão.
Apesar dos intensos bombardeios sofridos pela fábrica durante a guerra, grande
parte das ferramentas haviam sido movidas para os porões, tornando a retomada da
produção algo relativamente simples. No entanto, os britânicos não desejavam administrar para sempre a fábrica e
tinham de encontrar uma forma de passá-la para o governo alemão. A solução foi
chamar o antigo dirigente da RDA, e inimigo do Fusca nos seus primórdios, Heinz
Nordhoff, para assumir a fábrica. Fê-lo em janeiro de
1948, com carta branca do Major Hirst, e ficou no cargo até sua morte em
abril de 1968. [[Imagem:|thumb|left|"Der
Weltmeister", o Fusca que quebrou o recorde de produção do Ford T.]] Logo
Nordhoff percebeu que a única forma de expandir a fábrica, e gerar importantes
empregos para os alemães no pós-guerra, era exportar os Fuscas, particularmente
para os
Estados Unidos. Nos Estados Unidos os Fuscas se tornaram uma paixão, mesmo sem muita
propaganda, que era feita da boca para o ouvido, entre os apaixonados pelo
"carrinho" O sucesso e o fim da produção
O Fusca não foi sempre o mais barato dos carros, como pode-se pensar à
princípio, e de fato vendeu pouco nos primeiros anos de importação/produção na
maioria dos diversos países onde a
Volkswagen se instalou. Em 1949, por
exemplo, a Volkswagen firmou
um acordo com a americana Chrysler
para usar a rede de concessionárias desta última para vender o Fusca. No ano
inteiro apenas dois carros foram vendidos nos EUA. As razões para esse início tímido variam. Alguns países tinham um embargo
contra produtos alemães (uma fábrica na Irlanda foi construída para contornar
esta situação), e a moeda, que até 1948
era o Reichmark, atrapalhava um pouco a economia e, por tabela, a fábrica. Sem a
vantagem de uma produção em larga escala o custo do carro não seria viável. E,
além disso, os consumidores estavam acostumados a diferentes paradigmas de
produção, e estranhavam muito a configuração incomum do carro, com seu motor
traseiro e sua forma arredondada, sem radiador. Mas logo que as dificuldades econômicas foram superadas, rapidamente a fama
de "indestrutível" do carro começou a se disseminar, ajudada pela mecânica
simples (menos coisas para dar errado), pelo oferta e esquema de distribuição de
peças sobressalentes e, principalmente, pelo marketing da Volkswagen, que soube capitalizar sobre a resistência do carro. Logo o Fusca dominou sua fatia de mercado na maioria dos lugares onde foi
lançado, ajudado pela precariedade dos concorrentes diretos e pelo boom de
crescimento dos países vitoriosos na II Guerra (principalmente EUA). A Volkswagen
aproveitou para expandir a linha de veículos (todos ainda à ar), como a Kombi, o
Karmann Ghia, etc.
O sucesso do Fusca evidentemente colocou a Volkswagen em posição privilegiada. Entretanto esta posição era frágil, uma
vez que estava largamente baseada apenas em um carro - e qualquer decisão errada
feita no modelo poderia levar ao colapso da firma inteira. Isso acabou impedindo a Volks de realizar qualquer mudança radical no carro -
não que ela não tenha tentado. Vários protótipos chegaram a ser testados - veja o EA 97/1, uma clara tentativa de atualizar o carro. Outros protótipos
visando substituir o carro foram criados, e alguns ganharam as ruas como modelos
de produção paralelos ao Fusca - caso da
Brasília brasileira, por exemplo. Uma versão "modernizada" do carro ganhou
as ruas na década de 70 - conhecida como modelo "1303", contava com suspensão
frontal tipo McPherson, pára-brisa envolvente, painel protuberante e mais espaço
no porta malas.
Porém nenhum conseguiu suplantar o Fusca inteiramente (a Brasília chegaria a
fazê-lo, mas já no final do ciclo da linha à ar). A popularidade do Fusca só
aumentava, e em 1973 ocorreu o auge da
popularidade e produção, com 1,25 milhão unidades produzidas no ano. Entretanto, o fim da linha já estava à caminho desde os anos 60. Com as vendas de seus modelos à ar, a
Volkswagen pode comprar a rival Auto Union, formada pela fusão de famosas marcas alemãs (a DKW, a Audi, a
Horch e a Wanderer, além da NSU). Mas a razão real da compra era o extenso know-how em motores à água
dessas empresas. Embora timidamente à princípio (o primeiro Volkswagen à água, o K70, foi um fracasso), a linha à água começou a se
estabelecer em 1973, com o lançamento do Passat. Se a idade do Fusca já começava a gerar dúvidas, a aposta da própria
Volkswagen em uma linha refrigerada a água só serviu para ressaltar ainda
mais a obsolência do carro. Já nos
anos 70 a produção começou a cair, sendo encerrada na
década de 80 em todo o mundo - menos no
México, onde sua aceitação entre os taxistas deu-lhe uma sobrevida
surpreendente, semelhante ao que aconteceu no Brasil com o
Santana. Porém, novas leis de emissão mexicanas decretaram o fim do carro em
2003, e o último carro foi enviado para o museu em Wolfsburg.
No geral, o multiuso e indestrutível projeto de Porsche, as peculiaridades da
economia do pós guerra, o sucesso das iniciativas de Nordhoff, incluindo peças
de publicidade criativas e divertidas, somado ao charme do "carrinho", acabaram
tornando o "Fusca" o carro mais popular da história do automobilismo, superando
em 1972 o recorde do Ford modelo T, ao
comemorar a produção de 15.007.034 unidades. Com um número final recorde de
21.529.464 "Fuscas" produzidos no total (não contando os outros modelos à ar ou
o New Beetle),
o Fusca é o modelo de carro mais vendido no mundo, mantendo basicamente o mesmo
projeto (se for considerado apenas as vendas por marca, o nome Corolla já vendeu
mais de 30 milhões de carros, mas de várias "gerações" diferentes). Independentemente das vendas, o Fusca se tornou aos poucos um clássico, com
os modelos mais antigos sendo bastante procurados por colecionadores e
aficionados e inflacionando rapidamente. Por exemplo, um modelo de
1951 pode atingir, dependendo de suas condições, valores da ordem de até R$
50.000,00 no Brasil. No Brasil O primeiro Volkswagen brasileiro
foi lançado em 1959, obedecendo, com
poucas modificações, ao do projeto de
Ferdinand Porsche, lançado na
Alemanha vinte anos antes. A origem do nome Fusca está relacionada com a
pronúncia alemã da palavra Volkswagen. O nome da letra
V em alemão é "fau" e o W é "vê". Ao
abreviar a palavra Volkswagen para VW, os alemães falavam "fauvê". Logo que o
Fusca foi lançado na Alemanha,
ficou comum a frase "Isto é um VW" ("Das ist ein VW"). A abreviação alemã "fauvê"
logo se transforma em "fulque" e "fulca". "Desde que começaram a circular os
primeiros Volkswagens, em 1950. Também apareceu a corruptela da palavra
Volkswagen passando pela influência da colônia alemã",-- explica Alexander
Gromow para o Jornal do Brasil de
7 de agosto de 1993 - "Em Curitiba se
fala "fuqui" ou "fuque" e em Porto Alegre é "fuca", acrescenta Gromow. "Mas em
São Paulo, talvez por uma questão de fonética, acrescentaram o "S" na palavra e
o Volkswagen virou Fusca." A partir de 1950, o Fusca começou a ser
vendido no Brasil. Chegando pelo porto
de Santos, as trinta primeiras unidades foram logo vendidas (a família
Matarazzo foi uma das primeiras a comprar). O carro vinha desmontado da
Alemanha (ou em kits "CKD", "Completely Knocked Down"), e curiosamente não
era montado pela Volkswagen,
que ainda não havia se instalado no Brasil. A empresa responsável pela montagem
era a Brasmotor (mesmo grupo dono da
Brastemp, por exemplo). O modelo importado era o conhecido "Split Window",
com vidro traseiro dividido em dois, modelo Export (havia o Standard, mais
simples, nunca trazido para o Brasil).
Em 1953 o Fusca deixou de ser montado
pela Brasmotor e a Volkswagen
assumiu a montagem do carro no Brasil,
com peças vindas da Alemanha. O
modelo produzido já era o que tinha janela traseira única, oval. Em
1959 o Fusca passou a ser oficialmente produzido no país, embora parte das
suas peças ainda fosse importada. A janela traseira passou a ser retangular
neste modelo. Em 1960 a fábrica alterou o volante. As
maçanetas externas ganharam botão de acionamento e o estribo ganhou revestimento
na cor do carro. Em 1961 o carro passou a ter: caixa de
marchas sincronizada, para resolver o problema das "arranhadas"; ganhou nova
lanterna traseira de formato oval( versão que durou nos modelos standard até
1983) e o painel ganhou uma alça de segurança para o passageiro. Em 1962 o Fusca passou a ter chassi
nacional, faróis com luzes assimétricas, gancho cabide e reservatório de fluido
de freio de plástico. Em 1963 ganhou novo
descanso de braço, lavador de pára brisas pneumático e janelas traseiras
basculantes, além de amortecedor de direção. Em 1964 passou a vir com novo tanque de combustível. 1965 foi o ano do lançamento do Fusca
com teto-solar, que ficou conhecido como "Cornowagen". Logo o acessório foi
rejeitado e muitos proprietários, incomodados com o apelido (segundo rumores
dado ao carro por um executivo da Ford), mandaram fechar o teto. Houve também mudanças nas lanternas e na luz
de placa. Em 1966 houve mudanças na caixa de
marcha e no distribuidor. Nesse ano, a Volkswagen assumiu o controle da Vemag,
encerrando no ano seguinte as suas atividades. Em 1967, a Volkswagen adotou um motor
de 1.300 cc e 46cv no lugar do antigo 1200, de 36cv. Nas propagandas, apareciam
os carros com uma cauda de tigre saindo
da traseira em alusão a maior potência. O vidro traseiro ficou maior e o
acionamento da seta foi para a coluna de direção. Foi também o fim do sistema
elétrico de 6 volts para a chegada do de 12V.
Em , novos bancos e espelhos
retrovisores. Em 1970 chegou o novo motor
1500 de 52cv. Ocorreram mudanças na tampa do motor, tampa do porta-malas e
pára-choques.
Um Fusca 1500, traseira e dianteira.
A partir de 1974 o carro passou a
contar com uma entrada de ar no caput dianteiro, que chegava ao interior do
carro através do painel e saía por aberturas atrás dos vidros laterais
traseiros, as populares "orelhinhas". Muitos pensam que sua função é ventilar o
interior do carro quando, na verdade, é o inverso. As janelas laterais traseiras
passam a ser fixas. Também são apresentados novos faróis e distribuidor à vácuo.
O Fusca 1500 durou de 1970 até 1975. Em 1973 foi abandonado o modelo de
farol de perfil abaulado, sendo adotado o farol de perfil reto, que durou até o
fim da linha. Em 1975 foi introduzido o "Bizorrão" ou
"Super-Fuscão", o Fusca 1600-S com carburação dupla, que desenvolvia 65 cv SAE,
tinha volante de direção esportiva de três raios, rodas aro 14 e painel com
marcador de temperatura, relógio e amperímetro. As fendas de ventilação do capô
trazeiro deixaram de ser cinco de cada lado, e passaram a ser dois grupos com
oito e seis fendas de cada lado do capô. Em 1976 é lançada a versão 1.300-L. O
perfil entre o quebra-vento e o vidro dianteiro deixa de ser cromado. Em 1977, o Fusca apareceu com mudanças
estruturais, comando do limpador de para brisas na chave de seta e barra de
direção retrátil, que protege o motorista em caso de choque frontal. Em 1978 ocorreu uma mudança no bocal do
tanque, que passou para a lateral direita do carro. O interruptor do
pisca - alerta foi transferido para a coluna de direção e foi adotada uma chave
única para portas, capô do motor e ignição. Em 1979, houve uma alteração no modelo
e as lanternas traseiras passam a ser maiores, e passam a ser chamadas "Fafá",
em alusão aos grandes seios da cantora
Fafá de Belém. O modelo de lanterna menor continuou a ser utilizado nas
versões de acabamento mais simples.
Em 1981 foi lançado o Fusca 1300 com
motor a álcool. O Fusca passou a ter novo painel, com instrumentos quadrados. Em 1983, a empresa resolveu rebatizar o
modelo no Brasil, adotando finalmente o nome que se tornara popular, Fusca. Até
então o automóvel era oficialmente denominado "VW Sedan" nos registros dos Detrans. Em 1984 o motor 1300 deixou de ser
produzido. Agora passa a equipá-lo o novo motor 1600, mais moderno, e o carro
passa a contar também com freios a disco na dianteira, mais eficientes. A
lanterna modelo Fafá passou a ser padrão para todos os modelos. Em 1986 a Volkswagen desistiu de fabricá-lo, alegando que era um modelo muito
obsoleto, apesar de ser o segundo carro mais vendido daquela época, atrás apenas
do Chevrolet Monza,
e de muitos considerarem que tinha fôlego suficiente para permanecer mais uns
bons anos no mercado. O real fato é que a Volkswagen queria abrir espaço para a
Família BX, composta por Gol, Parati, Voyage e Saveiro. Em 1993, por sugestão do então
presidente Itamar Franco
a empresa voltou a fabricar o modelo. Itamar queria a fabricação de carros
populares, e sugeriu que o Brasil precisava de um carro como o Fusca. Foi
aprovada, então a Lei do carro popular, que previa isenções e diminuições de
impostos para os carros com motor 1.0, e o Fusca e o Chevrolet Chevette L, embora tivessem motores de 1.6l, foram incluídos. O
carro vendeu bem, mas longe da meta esperada pela
Volkswagen. A principal razão para que o Fusca não vendesse tão bem se deve
ao fato de seu acabamento espartano demais diante dos concorrentes surgidos em
meados da década de 90,
como o Fiat Uno Mille e
Chevrolet Corsa de primeira geração, que tinham preços muito próximos do
velho Besouro, porém, com acabamento e equipamentos bem melhores que os do
Fusca. Em 1996, a empresa deixou de
produzir novamente o carro, com uma série especial denominada Série Ouro.
A partir daí, ele só seria produzido no México. Nesse período, foram produzidos
no Brasil cerca de 42.000 exemplares. Atualmente, o Fusca permanece com um dos carros usados mais vendidos no
mercado nacional. A versatilidade da mecânica do Fusca garantiu o mercado de modificações, seja
as "oficiais" (vide o Porsche
356), seja as caseiras (Baja, gaiolas,
triciclos). Na verdade, o Fusca já foi transformado em quase tudo, desde aviões
(modelos experimentais), motos (a Amazonas 1600 do Brasil), barcos (pequenos
barcos de madeira com um motor boxer adaptado, ou mesmo o carro inteiro
impermeabilizado), e até mesmo bombas d'água ou geradores. Na verdade, tal versatilidade é uma conseqüência das aspirações militares do
projeto original do Prof. Porsche - a plataforma do Fusca, projetada para ser
facilmente modificada em Kübelwagens e Schwimmwagens continuou
perfeita em tempos de paz para gerar Bajas e Gaiolas sem muito
custo. Não raro, tais carros superam até mesmo veículos off-roads "genuínos" em
certos terrenos, devido a tração traseira e ao baixo peso, aliado a
confiabilidade do motor Volkswagen (algo que se pode notar também nos Fuscas,
Kombis e Brasilias). Dada a popularidade do Fusca, o fim de sua produção não significará o fim da
disponibilidade de carros para modificar tão cedo. Embora não tão populares
quanto a alguns anos, as transformações ainda ocorrem, e com o inevitável
envelhecimento da frota disponível, parece a única solução para muitos carros
quase sucateados.
New Beetle O Beetle continua a ser veículo de paixões, mas é ameaçado por outros mitos.Nunca conseguiu ser o sucesso do antecessor nas décadas de 50 e 60.Com um preço elevado conta ainda de uma versão cabriolet. O espaço é pequeno tanto nos bancos traseiros como na bagageira com 214 litros.
Algumas curiosidades
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